Com articulação de Lula, PT terá a maior coligação de sua história
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente
Dilma Rousseff conseguiram, às vésperas das convenções partidárias de junho,
reverter a onda negativa no meio político e estancar dissidências na base
aliada. O PT caminha agora para ter uma ampla coalizão de dez partidos, a maior
desde a primeira candidatura presidencial, em 1989. O arranjo de forças deve
dar a Dilma o triplo do tempo de TV do seu principal adversário, o senador
Aécio Neves (PSDB-MG).
Isso foi possível após a combinação de alguns aspectos, como
a recuperação de Dilma nas pesquisas, apontada pelo Ibope na quinta-feira, além
da concessão de cargos aos aliados. Mas foi a articulação direta de Lula com os
dirigentes partidários, nos últimos 15 dias, que possibilitou a reversão do
cenário. Só na semana passada, Dilma assegurou a adesão do PTB e o “pré-apoio”
anunciado pelo PP. Até o PROS, que apresentava problemas, indica entrada na
aliança.
Situação bem diferente de um mês atrás. Até então, Dilma
enfrentava queda nas pesquisas, denúncias de irregularidades na Petrobrás e
abertura de CPIs no Congresso, além de dissidências no próprio PT, com setores
a favor do “Volta, Lula”.
Avalista da reeleição de Dilma, o ex-presidente tem
conversado com a ala mais próxima a ele do PMDB, encabeçada pelos senadores
José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL), e dirigentes de outros partidos, como
o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP.
Nas conversas, Lula tem oferecido a garantia de seu apoio às
pretensões regionais dessas siglas, além de traçar um cenário favorável à
reeleição de Dilma. Delegou também missões ao presidente do PT, Rui Falcão. Ele
esteve no Norte para acertar as alianças regionais com os peemedebistas Eduardo
Braga (AM) e Romero Jucá (RR).
“Há uma ação muito forte do Lula e do Rui (Falcão) nesses
partidos. O Lula tem credibilidade quando fala com os aliados e, nos últimos 15
dias, ele conversou com meio mundo”, afirma o vice-presidente do PT, José
Guimarães (CE).
No PROS, que até a semana passada se dividia em uma ala
pró-Eduardo Campos (PSB) e outra ligada a Dilma, a situação se acalmou. “Hoje
temos 98% da bancada a favor da cndidatura de Dilma”, diz o líder do partido na
Câmara, Givaldo Carimbão (AL).
A estratégia do Planalto em abrir espaço no governo para
legendas que já estiveram no campo dos adversários também surtiu efeito. No
caso do PTB, os acertos, segundo o presidente da sigla, Benito Gama, ocorreram
diretamente com Dilma e com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, com
aval de Lula.
Duas semanas antes de aderir à campanha da petista, o PTB
emplacou o tesoureiro da legenda em uma vice-presidência da Caixa Econômica
Federal. Segundo Benito, o que pesou na decisão, no entanto, foi a falta de
expectativa em relação aos adversários da presidente. “Não tínhamos
alternativa. As candidaturas de Aécio e Eduardo são um voo no escuro”, diz.
Dissidências. O fato de terem diminuído as dissidências não
significa que elas não mais existam. O maior problema para Dilma ainda é o PR.
Uma das poucas vozes no partido a defender a aliança com o PT é a do presidente
nacional da legenda, o senador e ex-ministro Alfredo Nascimento (AM).
Entretanto, ele passou a ser alvo criticado pela maioria dos integrantes do
partido, em especial da bancada na Câmara.
Parte dos deputados defende um rompimento com o governo e
adesão a Aécio. Outro setor, minoritário, quer apoiar Campos.
“Há uma insatisfação muito grande com o governo. O próprio
Alfredo, que há um tempo disse que está tudo resolvido com o governo, recuou.
Está tudo dividido”, afirmou o líder do PR na Câmara, Bernardo Santana (MG).
O PP também convive com uma ala que defende o embarque na
candidatura de Aécio ou a neutralidade, como em 2010. A maioria dos Estados
deve fechar com o PT, mas uma solução para o impasse deverá ser deixar as
lideranças estaduais livres para montarem palanques de acordo com seus
interesses, inclusive para os adversários de Dilma. Um exemplo será a campanha
da senadora Ana Amélia ao governo do Rio Grande do Sul, que pedirá votos para
Aécio.
No PMDB, há especial tensão no Ceará, onde o senador Eunício
Oliveira deve enfrentar nome dos irmãos Gomes (PROS), no Rio de Janeiro e na
Bahia. Apesar disso, essa ala representaria 30% dos votos internos, segundo os
líderes dos descontentes.
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